Uma mãe que acaba de dar à luz, o pai da criança e o bebê são observados de perto por um pajem com seus cachorros, em cenário tipicamente brasileiro: uma mata de coqueiros. Essa cena, que poderia ser vista em diversas regiões do país, representa, neste ano, uma das histórias mais conhecidas da humanidade: o nascimento do menino Jesus e a Sagrada Família, no 6º Presépio Colaborativo da Casa Fiat de Cultura, foi inaugurado no dia 26 de novembro, com transmissão ao vivo, e poderá ser visto até o dia 6 de janeiro, nas vitrines do espaço cultural.
O artista e curador do Presépio Colaborativo destaca que esta edição convida a pensar sobre nossa relação com o mundo. “É tempo de sermos mais solidários e pacientes, especialmente agora. A pandemia acentua a percepção de um homem mais íntegro e integrado à natureza”, reflete.
O Kraft, o papel e o papelão são as grandes estrelas do presépio 2020, que homenageia a simplicidade, ao valorizar as pessoas comuns que transformam o mundo. Para Leo Piló, o papel Kraft é o material que substitui o plástico, principalmente em sacolas, com uso mais ecológico e menor impacto ao meio ambiente. Por não passar por processos de clareamento do papel e ser mais natural, é menos contaminante e pode ser facilmente reciclado. No Brasil, apenas 3% dos resíduos gerados passam por processos de reciclagem. O papel tem taxa de reciclo de 68%, enquanto o plástico, de 22%. A escolha do material na 6ª edição do Presépio Colaborativo é um convite à revisão de atitudes, ao lembrar que as pessoas podem reduzir impactos ambientais com pequenas mudanças, como a compra de produtos sem embalagens plásticas.
O Presépio Colaborativo da Casa Fiat de Cultura chega à sexta edição como uma tradição de Natal na Praça da Liberdade. A cada ano, as cenas tradicionais ganham ares modernos, e são adaptados a novas realidades, aproximando o presépio da vida cotidiana. A base principal é a reciclagem de resíduos. A primeira edição foi feita com papel e propunha o resgate das tradições natalinas. No ano seguinte, Leo Piló apresentou temática futurista, com uso de tetra pak. Em 2017, as peças feitas em papel, isopor, plástico e papelão homenageavam os povos indígenas e faziam apelo à preservação das terras. Já a 4ª edição foi uma homenagem ao Presépio do Pipiripau, com mais de mil peças em papelão. Em 2019, realizou-se uma edição comemorativa, relembrando os anos anteriores e trazendo o presépio em bambu, considerado o material do futuro, pelo artista e curador.
O Presépio 2020
Mais de 400 peças em material reciclado compõem os cenários do presépio criado por Leo Piló em 2020. Elas foram feitas a partir de técnicas de dobraduras, franzimento, kirigami, empapelamento, papel colé, texturização e alfaiataria em papel. A cena será organizada em três planos diferentes: no primeiro, pequenas peças coloridas, em homenagem às crianças, no segundo, os personagens da Sagrada Família, e, ao fundo, a mata de coqueiros e bromélias, que representa o Brasil e aproxima a tradicional cena de Natal de nossa realidade. O ambiente também é composto por colunas com referências gregas e romanas, que simbolizam a tradição e o passado. O desgaste das colunas representa a superação desse tempo que não existe mais, anunciando que uma nova era está por ser descoberta e vivida.
Para garantir a segurança dos participantes e garantir a continuidade dos festejos natalinos, todo o conceito do Presépio Colaborativo foi adaptado à nova realidade mundial: as tradicionais oficinas, que todos os anos envolviam o público na sede da Casa Fiat de Cultura, para confecção das peças, foram realizadas em formato de vídeo, nas redes sociais da instituição, ensinando as pessoas a construírem artigos que serão utilizados na decoração natalina de suas casas. Os cinco vídeos, com passo a passo de como fazer botinhas de Natal, bromélias, coqueirinhos e enfeites de parede, já tiveram mais de 7 mil acessos. Os vídeos das oficinas podem ser vistos no canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube
O presidente da Casa Fiat de Cultura, Fernão Silveira, vê a realização do presépio como uma reinvenção, depois das tantas mudanças que 2020 provocou. “As experiências que antes aconteciam dentro da nossa Casa precisaram continuar a acontecer no espaço virtual e, agora, encontramos uma janela para nos aproximar. Desejamos que esses aprendizados se mantenham e que possamos celebrar um mundo mais unido e consciente do papel de cada um”.
A 6ª edição do “Presépio Colaborativo da Casa Fiat de Cultura” é uma realização do Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e da Casa Fiat de Cultura, com o patrocínio da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), da Fiat Chrysler Finanças e do Banco Safra. A iniciativa conta com apoio da Ilha Ecológica da Fiat, e apoio institucional do Circuito Liberdade, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), do Governo de Minas e do Governo Federal.
HOMENAGEM ÀS FAMÍLIAS BRASILEIRAS E À NATUREZA
A grande inspiração do Presépio Colaborativo 2020 vem da figura materna e do surgimento das famílias. Independentemente do lugar, das crenças e das classes sociais, há sempre um respeito muito grande pelas famílias e pelas crianças que nascem e precisam de proteção. “Cada pessoa é um pequeno deus. E um nascimento é sempre um sinal de esperança e de dias melhores”, analisa o artista Leo Piló.
A relação com a natureza vem, justamente, do instinto dessas mães em proteger suas crias, sejam nas famílias humanas, sejam nas famílias de animais. “Só se vem ao mundo através das mães, por isso a homenagem a essa figura tão poderosa”, explica.
Por serem confeccionadas, em sua maioria, com Kraft e papelão, as 400 peças apresentam tonalidade de areia. As únicas peças coloridas são as botinhas, que ficam no primeiro plano do cenário, e remetem a um tempo em que as crianças faziam seus próprios brinquedos e brincadeiras. Além de ficarem posicionadas em um local onde os pequenos consigam vê-las com mais facilidade, as peças propõem reflexão sobre a relação consumista que se estabeleceu com o Natal ao longo dos anos.
Com a tonalidade única, o cenário do Presépio ganhou ares de deserto, e a mata que ambienta o nascimento do Menino Jesus aparece como uma espécie de Oásis, que simboliza a força da natureza.
Como, excepcionalmente, o Presépio só poderá ser visto do lado de fora, o artista criou um conjunto de peças que representam os visitantes: um pajem, com dois cachorros, no lugar do tradicional anjo, que observam a cena e zelam pelo menino que acabou de nascer.
A partir dessa nova configuração, o Presépio Colaborativo da Casa Fiat de Cultura coloca luz em assuntos que precisam ser debatidos: a sustentabilidade, o consumo, a união dos povos, a valorização da simplicidade e nossa relação com o meio ambiente.
PRESÉPIO COLABORATIVO ALÉM DA CASA FIAT DE CULTURA
Desde a primeira edição, o Presépio Colaborativo é marcado pela intensa participação do público. Todos os dias, cerca de um mês antes da inauguração, a Casa Fiat de Cultura abria suas portas para os visitantes, que aprendiam novas técnicas e modos de reciclar materiais e contribuíam para a construção do presépio com inúmeras pecinhas, feitas manualmente.
Os protocolos de segurança seguidos no cenário de pandemia exigiu novo formato e os resultados não poderiam ter sido melhores. O artista Leo Piló preparou quatro vídeos ensinando o público a fazer as peças, que, agora, decoram a casa das próprias pessoas.
A participação do público
A professora Maria Cristina Alves foi uma das pessoas que aproveitou as oficinas virtuais para multiplicar conhecimento. Por meio das aulas online, que estão sendo realizadas na escola em que trabalha no Bairro Jaqueline, ela repassa as técnicas de reciclagem e montagem aos alunos e está preparando um café da manhã com as crianças e seus avós, para, juntos, confeccionarem algumas peças. Ela participa das oficinas pelo segundo ano e conta que já criou uma rede de colaboração, em que muitas pessoas fazem doações de material reciclável e contribuem para a realização do presépio e a sustentabilidade da região. “A gente tem que ser cidadão. A cidade nos pertence e queremos ver esses espaços cada vez mais belos”, destaca.
A pediatra aposentada Marislaine de Mendonça cita o poeta Ferreira Gullar para falar da importância do presépio: “A arte existe porque a vida não basta”. Para ela, é muito interessante trabalhar com arte, seus significados e a tradição natalina. Ela conta que vai ensinar outras pessoas e que está fazendo as peças em casa. “O legal é reproduzir essas peças em casa, com materiais que temos em nosso cotidiano. As oficinas mudaram minha visão sobre o reaproveitamento de materiais e, hoje, já não jogo mais as coisas fora, simplesmente. Agora, vejo o mundo de outro jeito”, analisa.
Para Leo Piló, a gravação dos vídeos e o alcance foram surpreendentes. “Não imaginava que chegaríamos a tantas pessoas”, confessa. “As mudanças são essenciais e a gente precisa se acostumar, pois, de agora em diante, será assim. A tecnologia e as redes sociais são extraordinários”, completa.
Os vídeos das oficinas podem ser vistos no canal da Casa Fiat de Cultura no YouTube.
O ARTISTA LEO PILÓ
Mineiro de Belo Horizonte, Leo Piló é um artista inquieto, criativo, simples e dinâmico. Apresenta trabalhos inusitados, feitos de materiais não convencionais, treinando os olhares para novas possibilidades de construção – que revise atitudes e métodos de redução, reciclagem e reutilização – e meios de sustentabilidade. Sempre compartilhando as técnicas desenvolvidas por meio do aprendizado, o artista procura criar um elo entre arte e natureza, promovendo metodologia de reutilização de resíduos urbanos e gerando novas possibilidades inseridas na realidade atual, em termos de cultura, arte, educação, recursos econômicos e outros benefícios.
O lixo se tornou uma especialidade, com o trabalho desenvolvido por meio da reciclagem, e dos catadores, com o artista Leo Piló, que sempre busca nova consciência ecológica e a pragmaticidade de seu trabalho na sociedade. Durante quase 15 anos, o artista trabalhou na associação Asmare e ministrou várias oficinas de cenografia, costura, novas possibilidades, papelaria e marcenaria. Um dos grandes destaques de sua carreira foi a exposição Lixoarte, que tinha como objetivo criar, com materiais recicláveis, móveis e objetos para mobiliar uma casa. Em 2014, Leo Piló criou instalações para a exposição “Recosturando Portinari na Casa Fiat de Cultura”, por Ronaldo Fraga, e, desde 2015, é o curador do Presépio da Casa Fiat de Cultura.
ILHA ECOLÓGICA DA FIAT
Primeira fábrica do setor automotivo do país a conquistar a meta do Aterro Zero, o Polo Automotivo Fiat destina, desde 2011, 100% dos resíduos para reciclagem e reutilização. Todo o resíduo vai para a Ilha Ecológica, localizado dentro da própria fábrica, onde uma equipe treinada faz a gestão dos materiais. Em cinco anos, mais de 7 mil toneladas de plástico e 10 mil toneladas de papel foram encaminhadas para a reciclagem.
Os processos do Polo Automotivo Fiat aliam tecnologia e sustentabilidade e aplicam soluções da indústria 4.0, como realidade virtual e internet das coisas, na otimização dos processos produtivos, com resultados para a gestão ambiental, reduzindo em 13,8% os resíduos gerados na produção de automóveis.
CASA FIAT DE CULTURA
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar as mais prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braile e atendimento em libras.
Mais de 50 mostras de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 14 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico.
A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 2,7 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 550 mil participaram de suas atividades educativas.
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