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GOM comemora 40 anos com espetáculo Boca de Ouro

    Celebrando 35 anos como diretora do Grupo Oficcina Multimédia, Ione de Medeiros traz olhar sobre o texto de Nelson Rodrigues que fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (BH) de 11 a 28 de maio

    GOM – Cred Netun Lima

    O Grupo Oficcina Multimédia, GOM, está completando 40 anos. Para celebrar as quatro décadas de sucesso, o GOM realiza o espetáculo “Boca de Ouro” no CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). O espetáculo fica em cartaz de 11 a 28 de maio de 2018, com apresentações de sexta a segunda (Sim! Ás segundas também), sempre às 19h. “Boca de Ouro” marca, também, os 35 anos de trabalho de Ione de Medeiros como diretora do GOM.

    Com texto de Nelson Rodrigues, o espetáculo conta a história de Boca de Ouro, um personagem suburbano que, traumatizado pela sua origem desconhecida, quer se afirmar como figura mítica. Na busca pelo poder, ele mergulha no submundo do crime e passa a ser conhecido como Drácula de Madureira. O apelido do lendário bicheiro carioca é Boca de Ouro porque ele troca todos os dentes perfeitos por uma dentadura de ouro, sua marca de poder e ascensão.

    A tradicional história do Boca de Ouro acontece em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, mas na montagem do GOM, o espetáculo se desenvolve em um outro cenário. “Pensamos em trazê-lo para o interior de uma casa que poderia ser de um mafioso pertencente a qualquer lugar do mundo. Neste ambiente intimista, duas portas se abrem para o interior da casa de D. Guigui, a personagem que conta a história do Boca de Ouro por meio de três versões diferentes. Uma mesa de escritório serve à redação do jornal O Sol e ao consultório do dentista responsável pela transformação que vai conferir o apelido de Boca de Ouro ao personagem. Uma balaustrada localiza a varanda da casa de Leleco e o Celeste. Estes cinco ambientes, compreendendo interior e exterior, convivem em um mesmo espaço”, ressalta Ione de Medeiros, diretora, cenógrafa e figurinista do espetáculo que há 8 meses ensaia com os integrantes do GOM.

    GOM – Cred Netun Lima

    Na montagem, os integrantes se dividem em diversos personagens e o Boca de Ouro é duplicado, interpretado por dois atores. Mesmo com a presença de uma atriz, os atores fazem papéis masculinos e femininos. As roupas são escolhidas de acordo com a situação ou com o temperamento dos personagens e artistas pop aparecem como referência no figurino da peça. “Michael Jackson é uma afinidade eletiva presente no figurino e na dança. Michael foi lembrado por sua história como pop star que escolheu ser enterrado em um caixão de ouro, o mesmo sonho do personagem do Nelson Rodrigues”, explica Ione de Medeiros.

    Os textos ágeis, diretos, atraentes, com interrogatórios “bate-bola”, e pistas que funcionam como setas, indicando o que irá acontecer, prometem prender a atenção do público. O texto é um desafio para o público já que o estimula a pensar como um detetive que tenta descobrir os fatos verdadeiros e o que irá acontecer a seguir, após cada confronto entre os personagens. “Foi com esta perspectiva que inserimos em alguns momentos da montagem o clima de uma novela policial. Achei interessante também a dramaturgia pouco convencional de Nelson Rodrigues que nesta peça nos apresenta três vezes a mesma história em três versões diferentes, a partir do estado emocional da personagem narradora. Essas controvérsias questionam a própria objetividade dos fatos e põe em cheque o que é falso ou verdadeiro nas possíveis interpretações da realidade”, destaca Ione que reflete: “A verdade é sempre muito misteriosa”.

    A diretora do GOM ainda explica como os seus 35 anos de direção contribuíram para ampliar as possibilidades cênicas do GOM, dando prioridade ao texto de Nelson Rodrigues. “Em primeiro lugar a disponibilidade para experimentar novos caminhos, uma característica frequente desde a criação do GOM. Foi também a maturidade que me permitiu ampliar a visão sobre Nelson Rodrigues, ultrapassando os rótulos que lhe foram impostos e os preconceitos que sempre ouvimos dentro e fora do meio artístico. O que me interessou neste grande dramaturgo complexo, inquieto e controverso foi entrar em contato com sua obra e buscar nela aquilo que ultrapassa o tempo da narrativa e a transcendência do particular para o universal”, afirma Ione.

    A artista ainda destaca as afinidades entre Nelson Rodrigues e Shakespeare, ambos tendo como foco as contradições e complexidades do ser humano com um fator que contribuiu para a escolha de Boca de Ouro. “Acho que a leitura de Shakespeare em nossa última montagem, Macquinária 21 (2016), inspirada em Macbeth, influenciou esta escolha. Porque Nelson tem muito em comum com Shakespeare. Sábato Magaldi fala de Nelson Rodrigues como um jansenista brasileiro, uma vez que seus personagens são vítimas de desejos inconscientes incontroláveis. Nisto, Shakespeare e Nelson Rodrigues se encontram e serão sempre atuais”, conclui Medeiros.

    Aliás, Boca de Ouro completa a “trilogia da crueldade” produzidos pelo Grupo Oficcina Multimédia com foco na violência que vem acompanhando a história da humanidade. “Na primeira montagem, ‘Aldebaran’ falávamos do irreal, de monstros e do medo alimentado por guerras e disputa pelo poder; na segunda ‘Macquinária 21’ (2016), o foco era o Governo e a sede de poder que levou o rei a ser morto antes de subir ao poder. Em ‘Boca de Ouro’, o foco é revelar o que o ser humano é capaz de fazer para sua ascensão social. Este é um espetáculo que fala das sombras humanas. Mesmo os bons têm algo sombrio adormecido que é melhor não acordar”, Sob essa perspectiva, o personagem referencial é um marginal do subúrbio do Rio de Janeiro, conhecido como o Drácula de Madureira , famoso na redondeza pelos seus crime e benfeitorias. Mas, desta vez, junte-se a tragédia pitadas de humor, uma das características do autor Nelson Rodrigues, abrindo espaço para que as pessoas possam rir de suas próprias fraquezas, conclui a diretora.

    O elenco do espetáculo Boca de Ouro é formado por Camila Felix, Gabriel Corrêa, Gustavo Sousa, Henrique Mourão, Jonnatha Horta Fortes e Victor Hugo Barros. Jonnatha Horta Fortes é o assistente de direção, figurino e preparação corporal. Francisco César é o responsável pela trilha sonora e operação de som. Agostinho Paolucci, Lucas Fainblat e Rafael Pimenta são as participações especiais na trilha do espetáculo

    Os ingressos custam R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria do Centro Cultural Banco do Brasil e no site www.eventim.com.br. A classificação do espetáculo é 14 anos.

    GOM – Cred Netun Lima

    40 anos do GOM
    Fundado em 1977, o Grupo Oficcina Multimédia pertence à Fundação de Educação Artística, FEA, desde que foi criado pelo compositor Rufo Herrera no Curso de Arte Integrada do XI Festival de Inverno da UFMG e BH. O espetáculo “Sinfonia em Réfazer”, de 1978, inaugurou a linguagem multimeios e, pela primeira vez, levou para o palco os instrumentos de Marco Antônio Guimarães (UAKTI) integrados ao texto, movimento e material cênico. E a diretora do Grupo destaca a importância da parceria com a FEA. “Reconhecemos nela o nosso lugar de origem uma vez que ela acolheu o grupo desde sua criação e lá ensaiamos e promovemos atividades culturais até 1998. Neste ano, a Fundação se mudou para um prédio no bairro Funcionários e o GOM precisou procurar uma sede própria. Até 2005 a FEA assumiu o aluguel de nosso espaço o que possibilitou que déssemos continuidade à nossa pesquisa cênica. Mas, o vínculo com a FEA permanece até hoje como um reconhecimento de todo o apoio recebido e pelas afinidades culturais que mantemos com esta instituição”, destaca Ione de Medeiros.

    Desde 1983, sob a direção de Ione de Medeiros, o Grupo mantém um permanente trabalho de corpo, voz, rítmica corporal e pesquisa de material cênico no processo de elaboração de seus espetáculos. Até este período, Ione se dividia entre atuação e direção, até que decidiu se dedicar exclusivamente à direção do grupo, começando com “Biografia- Joguinho do poder” (1983) e “K ” (1984) . Depois vieram “Domingo de Sol”, “Trilogia Joyce”, “A Casa de Bernarda Alba”, “BaBACHdalghara” muitos outros, sendo o último, “Macquinåria 21” (2016) inspirado em Shakespeare.

    SERVIÇO
    Boca de Ouro
    Data: de 11 a 28 de maio, apresentações de sexta a segunda
    Horário: 19h
    Duração: 85 minutos
    Classificação: 14 anos
    Local: CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários)
    Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia)

    Ficha técnica:
    Direção, cenário e figurino: Ione de Medeiros; Assistente de direção, figurino e preparação corporal: Jonnatha Horta Fortes; Elenco: Camila Felix, Gabriel Corrêa, Gustavo Sousa, Henrique Mourão, Jonnatha Horta Fortes e Victor Hugo Barros; Texto: Nelson Rodrigues; Trilha sonora e operação de som: Francisco Cesar; Finalização: Pedro Durães; Participações especiais:Agostinho Paolucci, Lucas Fainblat e Rafael Pimenta; Iluminação: Bruno Cerezoli; Operação de luz: Iago Novais; Projeto Gráfico: Adriana Peliano; Assessoria de imprensa: Pessoa. Agência de Relações Públicas; Orientação em danças urbanas: Leandro Belilo; Orientação teórica: Leda Martins e Ram Mandil; Fotógrafo: Netun Lima; Produção: Grupo OficcinaMultimédia Teaser: Henrique Mourão sobre arte de Adriana Peliano; Apoio: Pessoa. Agência de Relações Públicas, Gráfica Central, Restaurante Bem Natural, Fundação de Educação Artística, Projeto Gororoba, Circuito Liberdade, Iepha, Secretaria de Cultura do Estado de MG, Governo de Minas, Centro Cultural Banco do Brasil e Governo Federal.