Um trabalho acadêmico desenvolvido pela estudante Alda Luíza Moura, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), acaba de ser transformado em uma cartilha sobre o “Patrimônio Cultural do Bairro Floresta”. O material reúne informações, fotografias, curiosidades, roteiros turísticos e conta a história de uma das regiões que mais caracteriza Belo Horizonte. Em tempos de pandemia e isolamento social, é um convite para conhecer mais o bairro sem sair de casa.
Cursando Arquitetura e Urbanismo no Campus Santa Luzia, Alda conta que o material foi inicialmente pensado para ser o trabalho final da disciplina “Técnicas Retrospectivas”, ministrada pela docente Isadora Monteiro. “A professora propôs que desenvolvêssemos algum trabalho que abordasse as conversas em aula, e deixou bem livre o tema, o formato e o local. Então, pensei em falar sobre o bairro Floresta, já que sempre morei nele e conseguia observar as nossas discussões em sala de aula aplicadas para o local”, explica.
O resultado positivo da experiência a estimulou a produzir uma versão expandida do material. Para isso, convidou a amiga Sarah Dreger, que cursa Arquivologia na Universidade Federal de Minas Gerais. “Nós já conversávamos muito sobre o patrimônio cultural do bairro. Na época, propus que juntas, em algum momento, poderíamos desenvolver melhor a cartilha e ela super topou. No final de março, tivemos a oportunidade de escrever um artigo que englobasse o patrimônio cultural de Belo Horizonte e vimos uma ótima oportunidade de concretizar a cartilha. Durante quase dois meses trabalhamos na segunda versão, fazendo reuniões semanais por vídeo chamada. Nesses encontros, traçamos os próximos passos e dividimos as tarefas para cada uma, pensando no que tínhamos mais familiaridade, conhecimento ou referências para estudar. Além disso, a cada duas semanas, enviávamos por e-mail para a Isadora um novo arquivo com as atualizações. Ela nos orientou durante todo o processo”, conta.
Ao desenvolverem o trabalho, as estudantes catalogaram 111 bens patrimoniais tombados no bairro Floresta. Pesquisaram também as diferentes versões da origem do nome, traçando a linha do tempo da história e de fatos que marcaram o desenvolvimento da região, como a construção do Viaduto Santa Tereza, a inauguração da Igreja de Nossa Senhora das Dores e a instalação da sede da TV Itacolomi (hoje TV Alterosa).
Moradoras do Floresta desde que nasceram, também elaboraram dois roteiros de passeio turístico, um pra ser feito durante o dia e o outro à noite. Endereços como a Rua Sapucaí, com sua agitada vida noturna e gastronômica, e a Praça Comendador Negrão de Lima, com suas feiras e eventos culturais, ganharam páginas à parte. Um vasto acervo de fotografias, que exigiu uma pesquisa cuidadosa, registra momentos desde o início do bairro, na época da construção de Belo Horizonte, até os dias atuais. O material traz ainda o poema “A casa sem raiz”, de Carlos Drummond de Andrade. O escritor morou na Rua Silva Jardim por cerca de 14 anos..
Orientadora do trabalho, a professora Isadora Monteiro afirma que a cartilha é voltada, principalmente, para o público leigo interessado na história de Belo Horizonte e do bairro Floresta, mas que também funciona como um instrumento de reflexão sobre a importância de preservar o patrimônio cultural, bem como servir de memória para os moradores e ex-moradores. “Avalio o processo muito positivamente. Foi interessante ver o trabalho tomando forma e se expandindo para além da sala de aula. Sou muito partidária do envolvimento dos estudantes em projetos propostos por eles mesmos e ver uma atividade da disciplina sendo abraçada e transformada em algo maior é muito gratificante. Alda e Sarah também elaboraram um artigo (ainda não publicado) sobre a experiência de produção do material e os desafios que encontraram durante o processo de pesquisa, o que acabou sendo uma ótima síntese de toda a experiência”, comenta.
O trabalho está disponível gratuitamente na internet, no site do IFMG. Por causa da pandemia, a cartilha ainda não foi impressa, mas as estudantes estão em busca de editais e parcerias para levantar verba para impressão e distribuição.