12ª edição do “Cinecipó – Festival de Cinema”, de 25 a 27 de abril, na praça da Serra do Cipó, em Minas Gerais, composto por sessões diárias de novos curtas de diferentes temáticas e produções infanto-juvenis 

De 25 a 27 de abril acontece, na praça da Serra do Cipó, a 12ª edição do “Cinecipó – Festival de Cinema”, coordenada por Cardes Amâncio e composta por sessões diárias de curtas, incluindo sessões infanto-juvenis diárias. As temáticas abordam assuntos sobre povos quilombolas, biodiversidade, territórios ancestrais e contemporâneos, trabalho infantil, emergência climática, fome e violência no campo e histórias lúdicas e divertidas.

Durante todo o festival, a programação começará diariamente às 17h30 com uma intervenção artística. Às 18h serão exibidas as sessões infanto-juvenis e, às 19h, a sessão de curtas-metragens. No dia 26 de abril, sexta-feira, acontecerá, às 19h, na sessão de curtas, uma roda de conversa Bantu com Black Pio e B Reu. Evento gratuito e com classificação indicativa livre.

“O Cinecipó nasceu em 2011 na Serra do Cipó do desejo de compartilhar a produção audiovisual contemporânea com o público, abordando temáticas relevantes e filmes que estimulam o pensamento e o debate sobre questões importantes do nosso tempo”, afirma Cardes Amâncio, coordenador do festival.

PROGRAMAÇÃO:

Sessão Infanto-juvenil 1

Data: 25 de abril, quinta-feira, às 18h, seguida de roda de conversa com alunos e professores da EEDFJ

Na ocasião, haverá o lançamento do curta-metragem “O filho da minha mãe”, produzido em 2023 por alunos da Escola Estadual Dona Francisca Josina – EEDFJ, na Serra do Cipó, numa oficina audiovisual ministrada pelo cineasta Anderson Lima, do canal Ladobeco, e organizada pelo Cinecipó.

A sessão é composta pelos filmes “Maria Felipa (a heroína da pátria)”, de Fernanda Santana e Marta Silva; a animação Cruz das Almas” (BA – 2022), que fala sobre Maria Felipa, uma menina negra que ama ler. Em uma de suas idas à biblioteca, ela encontra um livro que provoca sua curiosidade. Em “Tesouro Quilombola” (2021), de Ana Bárbara Ramos e Felipe Leal Banquete, as crianças do Quilombo Gurugi-Ipiranga (PB) brincam de caça ao tesouro e descobrem as verdadeiras riquezas da sua comunidade. Explorando suas raízes, elas aprendem sobre a cultura local, por meio de passeios e histórias contadas por suas principais figuras. Já o curta “O passeio” (2021), de Emily e Sabrina, conta a história de alunos do 9º A2 que refletem sobre o cinema, as artes e as ciências e também passeiam por Belo Horizonte e pelo Cipó. Filme oficina Anderson Escola D. Francisca Josina.

 

Sessão de curtas-metragens seguida de roda de conversa com o Projeto Presente

Data: 25 de abril, quinta-feira, às 19h

Esta sessão é composta pelo curta “Cavalo Marinho” (2021), do diretor Gustavo Serrate, premiado na categoria Melhor fotografia na 54ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – FBCB e em diversos festivais. A obra apresenta um grupo de garotos que vivem na periferia do litoral capixaba educando montarias para trabalho, transporte e diversão ao organizarem uma corrida de cavalos para competir e decidir quem é o melhor jóquei da turma. Compõe a sessão o curta “A Viagem de Seu Arlindo (2018), de Sheila Altoé, moradora e ativista do Quilombo de Pedra Branca, em Vargem Alta – ES. Neste quilombo, localizado nas montanhas capixabas, os mais velhos preservam a tradição de contar histórias para os mais jovens como a do dia em que o Seu Arlindo decide fazer uma misteriosa viagem, deixando intrigados os moradores locais.

Sessão Infanto-Juvenil

Data: 26 de abril, sexta-feira, às 18h

Nesta sessão, serão exibidos curtas para todas as idades, principalmente para crianças e jovens. Entre eles estão “Meu Nome é Maalum” (RJ – 2021), animação de Luisa Meirelles e Holanda Copetti. Maalum vai para a escola pela primeira vez, mas seus colegas acham seu nome estranho. Seus pais, então, contam a origem de seu nome e como ele está ligado à sua ancestralidade. A animação “Piropiro” (2022 – Coréia do Sul), de Miyoung BAEK, conta a história de dois pássaros: ‘Piropiro’, da floresta, e ‘Dalle’ da floricultura da cidade. Eles se encontraram acidentalmente em frente à floricultura e Piropiro quer que voem juntos para a floresta.

Por sua vez, o curta “Cósmica” (2022), da cineasta e produtora Ana Bárbara Ramos, aborda a emergência climática sob a perspectiva de não ser uma responsabilidade apenas dos adultos. Em “Cósmica”, a participação das crianças é evocada como guardiãs para a resolução do problema climático do planeta Terra.  O enredo de ficção de “Rua Dinorá” (2022 – Ceará), de Natália Maia e Samuel Brasileiro, conta a história de Dinorá que, ao descobrir que suas colegas moram em ruas com o nome de personalidades históricas, empreende uma investigação sobre o nome de sua própria rua.

 

Sessão curtas

Data: 26 de abril, sexta-feira, às 19h, seguida de roda de conversa Bantu com Black Pio e B Reu

 

Nove Águas” (2019), de Gabriel Martins e Quilombo dos Marques, se passa em 1930 quando Marcos e seu grupo de descendentes de escravizados saíram do Vale do Jequitinhonha rumo ao Vale do Mucuri. Fugindo da seca, da fome e da violência no campo, os quilombolas buscavam um novo território para construir sua comunidade. Dos tempos do desbravamento aos atuais, a história de luta por água e terra protagonizada pelos moradores do Quilombo Marques, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais. O curta “Travessia” (2019), de Safira Moreira, fala sobre a memória estilhaçada, fruto do apagamento histórico da população negra no Brasil. “Por eu ser agora uma mulher negra com uma câmera na mão e muitos sonhos no peito, que o curta se fez. Foi no gesto de garimpar fotografias de mulheres negras nas feiras de antiguidade do Rio de Janeiro que encontrei a fotografia que abre o filme. Todas as imagens encontradas nesse espaço provinham de álbuns de famílias brancas, logo, elas refletiam esse apagamento. 

Em “Solmatalua” (2022), de Rodrigo Ribeiro, em uma odisseia afro-diaspórica, divindades, paisagens, becos e vielas encontram-se nas encruzilhadas do tempo. Com uma constelação de vozes e presenças negras, o filme percorre um vertiginoso itinerário entre territórios ancestrais e contemporâneos. Nessa jornada mística, devires sonoros e imagéticos celebram as poesias pretas que ancoram memórias e descobrem futuros.

Sessão Infanto-juvenil 3

Data: 27 de abril, sábado, às 18h

Acessibilidade Libras

Compõem a sessão a ficção “Lily Hair” (2019), de Raphael Gustavo da Silva e Raphael Gustavo da Silva. O filme conta a história de Lily, uma garota negra que não gosta de seus cabelos. Com a ajuda de Caio, seu amigo cadeirante, tenta ter os cabelos do jeito que sempre sonhou; “Dono de Casa” (2018), ficção de Anderson Lima que conta a história de um menino que pede para brincar com as meninas. No início ele é dono de uma oficina, mas sem carros para consertar, ele precisa encontrar outro papel na brincadeira.

Em “5 Fitas” (2020), de Haroldo de Deus e Vilmar Martins, dois irmãos, Pedro e Gabriel, ouvem desde cedo as histórias e rezas de sua avó ao Senhor do Bonfim e decidem fugir no dia da lavagem, se aventurar entre a multidão, para tentar pedir por uma bola de futebol. Lá eles confrontam as narrativas de sua avó, com a lavagem atual, trazendo questões sobre religiosidade, sincretismo, manifestação popular, e importância da família.

Sessão curtas

Data: 27 de abril, sábado, às 19h

Sessão seguida de roda de conversa com Fernando Goulard, Gabriel Caram e Luiza Kot

 

Na ocasião, acontecerá a estreia dos curtas “Imaginaves” (2022) e “Santuário das Vellozias” (2024), produções realizadas na Serra do Cipó com a presença dos diretores Luiz Kot e Fernando Goulart. O curta “Inimagináveis” fala sobre uma catarse imagética e musical pelo universo do Cerrado. Um mosaico de sensações tropicais guiado por som e imagem, sem o uso da palavra, rumo a uma história onírica. Por fim, o filme se torna um pesadelo frente a face do crescimento econômico da sociedade moderna, que na sua versão mais cruel se materializa com a mineração industrial.

O enredo de “Santuário das Vellozias”, fala sobre uma construção participativa para uma visitação de uma planta rara em um parque nacional, epicentro de uma história que vai além  do tempo e do espaço. Vellozia gigantea ou canela-de-ema-gigante é uma planta centenária,  ameaçada de extinção e que representa a luta pela sobrevivência. Retomando a evolução na vida do planeta Terra e contando sobre as transformações da paisagem, o filme atenta para a biodiversidade dos campos rupestres da Serra do Espinhaço, onde a espécie ocorre. Traz, também, conceitos como a simbiose, termo que significa “viver junto”, e leva a reflexão de como podemos continuar vivendo como espécies que habitam esses campos montanhosos.

Em “Mineiros” (2020), de Amanda Dias, o cineasta Luís Flores descreve a sinopse:

“Quantas toneladas exportamos / De ferro? // Quantas lágrimas disfarçamos / Sem berro?” (C.D.A., ’83). No mundo representado por Mineiros, nenhum berro. Tudo é deserto e stasis forçada. Paisagens vazias, ruínas, casas abandonadas – lugares atravessados por ruídos silenciosos – cantos de grilos, pios distantes, barulhos de rio, ecos de vento, zumbidos. A montagem reforça a atmosfera fantasmagórica, ao mesmo tempo em que coleciona signos, animais errantes, placas e cartazes, chaminés com fumaça, acrescentando ao que vemos camadas de sentido. Um apito lancinante corta o ar – um alerta do passado que se repete, um alarme do que não cessa de continuar. Os espaços sem corpos, quase sem vida, representam pela chave da ausência famílias expulsas ou dizimadas, moradores que perderam o pertencimento da própria terra (a “pátria” de tantos mineiros). Nesse universo sem humanos, a voz finalmente desponta, com firmeza, para declarar que, no programa da destruição capitalista, a vida das pessoas é administrada como um obstáculo ao progresso, e ao trabalho das mineradoras.